domingo, 1 de dezembro de 2013

Texto

Olha que lindo esse texto de  Ana Peluso
É a era da decepção. Ninguém mais precisa amar ninguém, todo mundo tem o Facebook, todo mundo se julga auto-suficiente, todo mundo é artista, é poeta, e por isso a confissão (todo mundo é carente), e ao mesmo tempo todo mundo sente medo de amar o próximo, só por amar, sem interesses, todo mundo sente medo de ficar over se não pensar em si mesmo (porque é essa a bíblia do capitalismo), todo mundo sente MEDO de reconhecer o outro, porque todo mundo sente medo de reconhecer a si mesmo.
Minha paixão são as ideias e as palavras, mas elas não saciam todos os nervos. Se apaixonar por uma causa pode equivaler a um erro brutal, porque as causas estão mascaradas. Se apaixonar novamente por um outro homem pode ser outro erro, estou escaldada, a guerra transformou os homens em reféns de um comando, o comando de jamais se entregar. Pode notar, são todos soldados orgulhosos de suas ereções anímicas e posturais. ERGUER a cabeça para o amor? Jamais.
A decepção só serve pra lembrar aquilo que a gente teima em esquecer: que somos sós. Tremendamente sós.
Imagina “Esperando Godot” só com Estragon ou só com Didi. Seria silêncio? Nunca. Somos acompanhados pelo verbo. No início era o verbo e continua sendo. Berre, nem que solitário, berre. Não tenho lido seus artigos porque a maioria está em inglês, e minha cabeça anda cansada até para traduzir uma porcaria de uma linha. Um dia igual ao outro é como a morte, cansa.
Às vezes me vem na mente que a morte é solidão pura. Um imenso e infinito contínuo branco, vazio, vazio. Um tipo de castigo pela intolerância que temos uns pelos outros.
Não devo ter melhorado em nada o seu humor, mas você não está só na sua solidão. Aliás, estamos todos juntos nas nossas solidões, tremendo paradoxo que só existe por um medo alienígena de tocar o outro. Vai que, tocado, ou saboreado, o outro nos engula por nosso sabor, e se alimente de nós, e se torne nós mesmos

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